por Marcia Valéria David (Marcia David Poeta)

21.12.13

Viuvez


que gosto tem olhar o tempo?
e admirar a distância entre querer e ter?
é um procurar em mim que não chega.
um rodear o véu que te esconde.
que gosto tem encontrar a saída?
debochar da vida, da certeza,
nem tudo está perdido.
ainda tenho os talvez, os porquês...
a viuvez dos sonhos.
e um emaranhado estranho.
sentir.



9.11.13

Volto ao Mar



Nem gosto tanto assim do mar.
Mas fico a admirar suas filhas.
Ele as deixa soltas. 
E elas vêm e vão só pra me agradar.
Sabem que eu gosto de olhar.
Tanto que me perco. 
E então viajo. 
Num barco branquinho, que balança bem devagar.
Também queria ser filha do mar.
Por isso mergulho. 
E esqueço-me do tempo.
O vento acorda os sonhos.
E eu volto a navegar.   

18.10.13

Confortável

Do meu sofá vejo mundos improváveis.
Amarguras, frescuras e afins.
Aperto botões para mudar o rumo.
Mudar o tom, o som, a vida.
Pés na mesa, dias de preguiça
e notícias da rua.
De longe. Assim está bom.
De muito perto posso cortar os dedos.
Machucar a alma. Causar traumas.
E isso não convém.
Descer o elevador ou andar de trem.
Lotação esgotada.
Tumulto à vista.
Prefiro o meu sofá com desdém.


2.10.13

Olhar

E se o que vejo são olhos de mistério?
Delírio, dança e desejo. 
E se sou poeta posso ver mais distante.
Água da sua fonte. 
Olhar de longe o que sinto tão dentro.
Avesso, reverso, intenso. 
Não repara no seu nome?
Busca na tela do artista 
O retrato do que seja.
Sentidos, semblantes, sentimentos.
Flutuo na sua íris. 
Afundo no horizonte antes de dormir.
Olhar em direção diversa.
Me segue, cerca e abraça.
Me cega.




25.9.13

Sutil

À noite fico encantada
com suas sombras.
Deslizam pelo quarto,
pelos meus cabelos.
Olho de lado e percebo
sua boca.
Olho adiante e te vejo
sair detrás das cortinas.
Lilás, pelo vento, ardil.

23.9.13

Barco


E se eu sentar no seu barco nua da vida,
Esfrega no meu rosto a sua pele salgada.
Não me atire n'água. Não me afogue os beijos.
Me deixa adernar. Balançar de enjôo.
Prometo te observar com olhos de maré.
Navega por mim. Me leva daqui.


2.9.13


De novo recolho os pedaços.
Agora mais partes de mim.
Guardo o que poderíamos ter sido.
O que já fomos e os sorrisos.
Transformo tudo num sonho adormecido.
Que nunca será.
Nunca acordará.



Diferente


Não quero me esconder na sua casa.
Quero ser parte do mundo.
Não há o que me tenha com mais ardor
Do que vida de sorrir e sonhar.
Me encantar com os olhos de boneca que me refletem num brilho. 
Um relâmpago. 
Um trovão nos meus braços. 
De prazer e amor.
O que não esqueço?
Não esqueço.
Nunca passou.
Ficou guardado.
Aos pedaços.
Quebrado. 
Você por inteiro dentro de mim.



27.7.13


Tudo entra pela boca,
pernas, ombros, braços e deleite.

Entope a alma de gozo.
E o corpo, o teu enfeite.



12.7.13















Então, que o tempo vai devolvendo tudo que te tomaram.
Vai abrindo caminhos nunca imaginados.
E quando menos espera, se está vivo, amando e sendo amado.
Rezando um credo de anjos.
Aqueles que colocam na sua porta.
Basta abrir e respirar. Fechar os olhos e imaginar.
E tudo surge. Tudo renasce. Enfim, tudo é VIDA!


6.7.13

Raiou


Descobri que sou a tempestade.
E também a brisa.
A minha própria condição de andar.
Solta nessa vida que não basta.
Pano que desgasta, feito nuvem ao vento.
Bordado, lavado, desbotado.
Mas ainda sei quem sou.
Aonde piso e porque vou.



4.7.13

Rayar...


Caminha comigo?
Me deixa pisar nessas folhas secas.
Me deixa voar.
Fica do meu lado, enquanto eu escolho um caminho.
Um atalho. Um viés.
Qualquer trilha que me leve daqui.
Não me faça refém.
Só segue comigo.
Molhando os pés, ardendo ao Sol.
Me deixa abraçar a árvore, correr por aí.
Perseguir raios, trovões, vendavais.
Eu sou a tempestade
Seja a minha brisa. Na varanda.
Dias mansos de preguiça.













1.7.13

Quem É...

Instante, ora e passa.
Hora que devassa.
O que de passado se fez
e aprendi.
Um instante e reconstruí
Vida, Amor e Graça.


14.6.13

A Uva e O Vinho

Dança na língua
Um vinho que não bebo.
Guardo em barris
Para que amadureça.
Ganhe corpo e aroma gentis.

Dança na língua
O vinho que guardo selado,
Num canto,
Esperando momento propício.

Dança na língua
Gosto de safra de bom tempo.
Perfeito sabor da uva
Desde o início.

Combinando vinho e alimento.



19.5.13


Os pés em bolha
As mãos em prata
Reluz nos olhos
Dias na estrada

Muitas de mim por ai
Deixadas, sentidas, armadas
Perdidas





Urgente é sentir saudade
Recolher as lágrimas
Abrir os braços e ser

Deixar que vá
Deixar sorrir sem estar aqui
Deixar fluir

E se quiser voltar
Abrir a porta
Arrumar a seda
Abrir espaço
Arrumar a sala
Evoluir



17.4.13


Tento uma poesia.
Uma nota...
Uma letra de música...
Mas o silêncio é uma sina.
Perambula pela casa.
Ri da minha cara e me deixa pelo chão.
Sem nada.



4.4.13

Defesa

Tenho mil motivos pra te deixar pra trás. 
Apenas um pra te carregar comigo. 
Não sei se é forte o bastante. 
Se suportaria tudo. 
Mas eu carregaria no colo, se tivesse a certeza.

Tenho uma dúzia de sentimentos contrários. 
Apenas um a seu favor. 
Tudo é dúvida. 
Conselhos pra te largar por aí. 
Nada me guia, nenhuma luz, tudo é névoa. 
E vou me juntando, pedaço por pedaço. 
Recolhendo detalhes.

No escuro. Esbarrando em tudo. 
Nada se quebra. 
Mas não consigo montar esse quebra-cabeça. 
Peças de mim, de ti, do tempo que não sei se passa. 
Não sei quanto tempo ainda espero.

Tenho tantos e insuperáveis álibis. 
Que ninguém me condenaria. 
Nem você. No abandono. Até você concordaria.

Mas um único, senso, desvario, me cessa. 
Amor.


3.4.13

Urgente


Dói o pé de andar latente.
Dói o corpo de sentar horas de espera.
Dói a cabeça de pensar dias de saudade.
Dói a mão que não alcançou.
Deixou partir. Partiu. Voou.



14.1.13



Espera que não cessa. Amordaça.
Espera que castiga, apaga.
Sentença do tempo que se esgota.
Esquecido de um depois que não chega.
Espera, esperança, esperada.