por Marcia Valéria David (Marcia David Poeta)

27.11.12

Vazia

Eu já não tenho novembros pra comemorar.
Ando triste, medonho.
Fico tentando te olhar por dentro.
Encontrar o vasto sentido que antes valia.
É mistério.  Não te sinto mais tão viva. Não te percebo mais.
Parece vazia de mim.


















19.11.12

Desfeito



Andei tentando remendar aqui e ali 
o que um dia foi um lindo bordado de luz.

A seda ficou corroída por tanto zelo.
Mãos que lavavam e teciam.

Andei mesmo tentando refazer ponto por ponto
daquele desenho esquecido.

A memória já se pôs,
Desbotada e desfeita a linha.

Enredando e entrelaçando pontos sem nós.

 


17.11.12

Aniversário





Tenho a idade do vento, que sopra livre nos campos.
Tenho o tempo das quimeras.
Tudo que sonhei e criei conta para a primavera.
Cada ano, cada dia, cada pingo, de cada letra mofada, se renovam hoje.
Vou construindo castelos, subindo rampas a cavalo.
Galope juvenil.
Tenho a idade de quando acordei.
Olhei nos olhos de um monstro e venci.
Eu sou eu um pouco melhor, maior, de sempre e franca.
Assim me sinto viva, santa, mordaz.
Corrosiva, maledicente.
Tenho a idade que o amor me trouxe.
Suas dores e mazelas.
Me desejo tudo de bom. Nada de ruim.
Tudo o que sou deixa de ser.
Passa hoje a viver outra de mim.




13.11.12

Ardendo
















Lavas, fel e menta refrescante.
Gotas desse mel arruinando com qualquer chance.

Temos pouco tempo. E eu só quero correr.
Tavez nem dê tempo.
Mas também posso surpreender.

Refazendo a mistura do que bebo.
Sede do que arremedo.

Pura combinação de descompasso.
Vou e você volta.
Incendeio e você nem se solta.

Pedaços de maçã, chá da casca de romã...
Esteja suave, pois hoje estou ardendo.



9.11.12

Folhas de Outono

No chão, espalhadas, secas.
Já vividas. Atravessaram tempos.
Tapete de mágoas. Salvas pelo vento.
E eu que aqui fico perdurando em sentimentos.
Antigos contentamentos.
Porque não me leva em nuvens?
Pelo menos essas estão imunes.
Enrudilhadas, ressentidas, esquecidas de seus galhos.
Que recomeça e se renova.



4.11.12

Desconectada...


Que notas me caem sobre a cabeça?
Chuva de Sol, girassol, Lá, do lado de Si.
Mesmo.
Desconexo da vida.
Desconheço o que me liga.

Um poeta sem plug and play.
Ávido por ir. Apenas seguir.
Olhando de lado. Olhando em frente.
Conexão sem fio. Desfio. Um rio sem veios.

Entremeios para fugir.

Um mundo que não creio, um digo que não vejo.
Nada toca, nada guia.
Sensível à luz, ao som da boa música.
Mas o medo desata. Desanda.
Gente que não reza, nem olha, nem estende a mão..
Impacientes, doentes sem flor na lapela.

Desconectada. Sorri e segue.
Candanga, sentida, de Lua.



1.11.12




Eu estava vivo. Esperando a sorte de um toque lúcido.
Cuspe na cara. Arda a navalha no punho quente.
Estava tonto de dor e loucura. Luto de morte que chega.
Não avisa. Me alisa a alma e me despe.