por Marcia Valéria David (Marcia David Poeta)

11.4.12

Noites Cariocas



Já não são como antes...
É que perderam o gosto pela Poesia, pela Boêmia, pela Fantasia.
É tudo pose, disfarce.
Ninguém olha, ninguém vê.
É só desenlace.



Subtexto


Faz muito tempo não olho minhas mãos.
Não seguro meus dedos.
Escrevo o que sinto.
Não faz sentido?
Eu não minto.
Só procuro minhas mãos,
Os meus dedos.
São eles que sangram
quando me cortam o coração.





28.3.12

Partitura


Deixa que a poesia cega te aponte.
Deixa que o som dos dedos te acorde.

Acordes da melodia pura.
Pura melancolia da morte.

Recortes que perdi partes.
Não sei juntar as pontas.

Recomeço em rara partitura.




Sem inspiração

É que o mundo me deixou muda.
A maldade da gente me tirou o fôlego.

E que palavra te falta pra pedir perdão?
Que medo de revelar que enfraqueceu.

Sem inspiração pra parar de acreditar.
Mesmo com a falta de zelo.

Ainda com sede e mãos sem tato.
Sem inspiração pra desistir.

O coração trôpego,
A língua seca e os pés sem alma.

Não quero inspiração.
Quero a crença.
Imensa dúvida da espera que realiza.



23.3.12

Vigia



Segue. Suga. Saca.
Suspeita. Certeza cega.

Invade. Faz alarde. 
Copia. Resposta. Covarde.

Finge que não lê.
Imita que não vê.
Disfarça que nem percebe.

Mas sempre visita.
Entra pela porta dos fundos.

Espia, espreita.
Vigia meu mundo.

Sorte.
Não imita.



22.3.12

Semear

Trigo e vento.
Sementes que esvoaçam, espalham e contaminam.

E crescem em talos, folhas, verdes.
Secam.

O arrependimento de sair da terra.
Porque morrer no outono?

Apenas broto, flor e frutos.


Despoetizando...














Vamos descontruir a poesia.
Desfolhar em pequenos cacos.

Poesia mansa, poesia louca...
Poesia apenas...

E depois de triturada, fragmentada...
Quero bordar pequenos pedaços...
Tecer, reconfigurar...

Fuxico, retalhos...

Colcha de argumentos esquecidos.
Sentimentos secos.
Desvalidos.

Não quero juntar, quero tramar.
Costurar.


Um novo desenho.
Um outro nome.

Despoetizar.



21.3.12

Caliandra


Me ache assim,

compacto, encerrado, denso.
Entre águas raras sobrevivi.

Cílio colorido que mexe ao vento.
Dança, valsa, feliz.

Me ache enfim.

Cerrado difícil de entender.
Bela flor de suaves dedos.

Pequeno arbusto.
Tronco rígido e forte.
Escondido entre folhas ásperas.
Cascas, rugas.

Sugas o que ainda resta.
Só não se perca.
Me ache e fim.



...

Eu sou quase...
Quase uma mudança.
Quase uma mudança de humor...

Eu estou quase...
Estou quase perto...
Quase perto de me tornar alguma coisa...

A reticência é que me mata.
E eu sempre penso:
Alguém no mundo já esteve tão perto?
Longe demais é algo que eu não imagino.
Mas sei que quase cheguei.

Sei que o meu quase é muito mais do que já fizeram.
Eu amei muito.
Fui muito amada.
Estive muito presente e muito ausente também.

A intensidade é que me avilta.
E eu sempre me pergunto:
Pra que sentir tanto? Porque?
Pra que serve todo esse "sinto muito"?
E peco pelo exagero.

Por via das dúvidas,
Eu quase...
Mas nunca...

Rosa e Espinho

A rosa não murcha
Não perde a cor
os espinhos
sobrevivem fortes
como forte é o seu perfume
forte é o seu lume

O vermelho das pétalas frescas
Rijas
Sobrevivem...
E eu sou a rosa.

13.3.12

Amor Livre














Vou e volto e te carrego cá dentro.
Tenho liberdade de sobra.
Só o que não cabe é o gostar.
Imenso, denso, grudado.
E isso não me prende.
Me traz de volta.

A música que toca quando posso
de novo te ver.
De novo te achar.
No canto da cama.
Costas nuas.
Cheiro bom de madrugada quente.
Manhãs mornas e gentis.

Ando contigo.
Aqueço os seus pés.
Me faz rir.
E eu volto.
Tenho a liberdade que sempre sonhei.
Estar aqui.







7.3.12

Gracias a La Vida (Violeta Parra)






"Este dia merece um olhar de exclamação.
Amo o sol sobre todas as coisas!
A luz que colore o verde, o azul,
a água trêmula em seu leito firme."

(Trecho da Poesia SOL - Marcia David - do Livro Liberdade Poética)




6.3.12

Arco-íris




Que cores você quer?
Quero todas.
Um arco-íris de opções para cada minuto de alegria.
Uma aquarela de sorriso largo.
Amenidades de cores fluorescentes.
Tons quentes para uma tarde de namoro.
Tom pastel para o que não tem a menor importância.

Quero bem vivos cada cor, cada cheiro bom, cada amor.
E de quebra quero pinturas na parede.
Pichações de alarde dos amigos.

Quero muitas cores pra me lembrar todos os dias,
Como é bom viver.








Sensações



Preciso sentir pulsações fora do peito.
Agonizar nos segundos de espera.
Sorrir em seguida com o beijo de quem chega.

É que o momento pede descobertas.
Novas sensações, bons sentimentos.

Preciso sentir as pétalas.
Esquecer os espinhos.
Saber que existem flores encantadas.
Um jardim escondido em cada olhar.

E os olhos se abrem.
Feito flor. Dando frutos.
E eu preciso.

Caminhar. Primeiro passo.

Meu desejo vai morar contigo.
Meus sonhos serão sussurros inéditos no teu ouvido.

Que seja doce.
Porque eu preciso de anjos na minha porta.
Preciso que me queiras bem.
Me cheires a alma, escutes os passos...

Preciso de sensações mais do que tudo.
As vontades me atropelam.





5.3.12

Fuga


Fujo.
E por mais que corra, não me afasto.
Tenho pernas e elas não me servem.
Nada me cabe.
Desejo nefasto de calar.
O teu silêncio diz muito.

E é por isso que fujo.
Fujo da lembrança, 
do calendário amarelado.


Tempo

Tenho um tempo que tu não vivestes.
Idade que não perceberás,
até que vivas.

Isso não faz de ninguém perfeito.
Pois que perfeição não se apura numa vida.

Não exatamente nesta.
Não me torna especial,
nem mais louca,
nem sábia.

E o que sabe o tempo sobre mim?
Ou o que sei eu sobre o que se perdeu?

Só tenho a meu favor algumas respostas.
Muitas nem pra muito servem.
Todos os dias mudam de lugar.




Inspiração






"Dó...
...tenho pena de quem nunca amou...
nunca ouviu música...
nunca sentiu seu cheiro e um clarão nos olhos...
cegos...amantes....desnudos....hipnose..."

(Trecho da Poesia Música do Coração - Marcia David - do Livro Liberdade Poética)



Meus dias



Mostre seus dias
Sem poesia
Eu mostro os meus
Poéticos
Embora sem métrica
Simétricos
Não herméticos
Expostos ao tempo.



2.3.12

Mar


Tenho sede viva de ti. Amor cego e distante. Beira de um abismo que não termina. Sem ti, sufoco. Não tenho rima. Sou ave sem vôo. Me deixa sucumbir em teu verde-azul manso. Te vejo e não te acredito. 
Como sou pequena.


Ainda o Mar


Gosto do mar porque nele me encontro e logo me perco. Sou onda, espuma branca e fugidia. Vou e volto sem me importar com o tempo. Atrevo-me em linda composição, um murmúrio que invade a alma e termina como uma sinfonia sobre a areia.




Fim sem começo




Devo usar as algemas e as correntes.
Sei até que ponto vamos chegar.
Tracei os limites da saída, ida lenta e certa.
Não! Não me diga!
Não quero ouvir.

A surdez me cai bem.
Ignóbil pensamento me ocorre.
Rio de mim.
Quero deixar que vá, só para que não haja outra vinda.

Deixa-me fechar a porta.
Ouço passos.


Moradia do Amor



Você morava no meu sonho.
Quando te vi pela primeira vez, mudou-se...
Passou a morar nos meus pensamentos.
Então um dia ouvi sua voz.
Nossa! Então, noutro dia segurei sua mão.
Você morava então no meu desejo...
Curiosa invasão da minha vida.
Impregnada sentia-me.
Tempos depois já habitava meu corpo.
Estranha criatura que me penetrava.
Sensação gostosa de ser visitada.
Nessas mudanças não criamos raízes.
Nos cativamos e nos perdemos.
Então...
Onde será que você mora agora?


27.2.12

Domador de corações


Doma meu coração enquanto está vivo.
Enquanto bate.

Doma meu coração, vadio e lento, cansado e louco.
Doma meu coração enquanto bate.

Toma-o na sua mão, carrega-o perto do Peito.
E cuidado...

Doma meu coração enquanto bate.

Toma-o no seu ventre como a um embrião.
E cuidado...

Acalenta com carinho a criança que nasce em seus braços.

Doma meu coração enquanto é vivo.
Doma meu coração enquanto é vadio.
Doma meu coração antes que ele saia por aí como um louco.
Um louco...

Um coração carregado de orvalho e gota.
Arco-íris e medo.
Mendigo e coxo.

Doma meu coração que ele está cansado.
Atravessado.
Descompassado.

Doma meu coração.
Doma...
Doma que ele já se parte e parte...











Poesia publicada no Livro Liberdade Poética.
Vendido pelo site: www.clubedeautores.com.br





25.2.12

Quando a Música é Poesia






Fragmentos


E assim vou me largando por aí.
Me deixando aos pedaços.
Fragmentos do que já fui.
Me salvo e me afogo pra não perder o rumo.
Me abandono na correnteza.

Tento me convencer.
Mas faltam laços.

Reticência da minha origem.
Tento juntar letras
E escrevo sobre o mesmo verso.
Verso sobre a mesma vida.

Dá pra ver daqui.
Tudo se espalha.
Tudo se perde.


Crua



Não são as rimas que busco.
No refluxo das eras.
Galgo temperamentos santos.
Mantos de falcatruas.
Como me engano. Como me aflijo.
Sem memória. Esqueço.
Não entendo.
Sou avesso
Sou nua, crua e adormeço.



23.2.12

Coração Torto



Crio e Recrio. 
Verto e Converto
Um coração já torto.
Reconforta saber que ele Vive.
E Bate.
Um som Grave que acorda o Sonho.
Revira a Alma e Refaz um Caminho.
Manso e Doido. 





19.2.12

Vi Mitos e Deuses na chuva.
Eu era a estranha que carregava pedras.
Secas, torriscadas.
E eles sorriam. Riam da escrava maluca.
Era seca, como as pedras.
Oca, sem paixão.









Poesia publicada no Livro Poetas Contemporâneos do Brasil
Lançado na Bienal Internacional do Livro - Rio de Janeiro
03 de Setembro de 2011

Love

Eu te provaria numa lambida de dedo.
Escorregaria minha língua no seu rosto.
Que gosto.
Que medo



A Poesia "Love" ficou mais de um mês na primeira página do site www.livrodatribo.com.br
Foi a primeira poesia mais votada de 2012 no site da Editora Livro da Tribo. (Janeiro de 2012)



Rio que eu AMO!


Rio que mora no mar
Sorrio pro meu Rio
Que tem no seu mar
Lindas flores que nascem morenas
Em jardins de sol... "
















(Foto: Marcia David - janeiro de 2008 - Botafogo)

Esconderijo


Comento o passado e finjo que não
foi comigo.
Cara de paisagem. Copio uma amiga.
Caras e bocas e me escondo atrás das
cortinas.

Disfarço.
Refaço o caminho mil vezes pra não
me perder.

Sombra. Vulto.
Passagem para um esconderijo.

Solidão.



Bêbada




















Bêbada, me contive.
Apenas sussurrei.
O grito ficou preso.
Enclausurado. Falido. Sôfrego.
Banido.
Tudo sufoca. Não existo. Fiquei
cega.

Bêbada, me recolhi.
Fracassei. Reclusa. Feto.
Gestação inacabada.
Eu quase explodi.
Mas bêbada...

Só vacilei...

Enquanto sorvia, tragava...
Não era nada.

Sucumbi.



16.2.12

Sentido


É o costume de se perder por aí.

Ela viaja, ida sem rota.

Muitas vezes meia volta.

Caminho curto de um atalho.

Medo. Revolta.



Eu, Abelha

Era doce.
Eu era o mel que te cobria.
Abelha abelhuda que te lambia.
Eu não era eu.
Você não era você.
E o que escorria,
Era o seu legado.
Solidão e covardia.

Amor

Ando te lendo.
E te acompanho pelas ruas.
Beijo suas flores, cheiro os seus afrescos.
Olho pelas janelas e vejo festas.

Ando te revendo.
Revisitando.
Te procurando entre belos casarios.
Antigos cenários da boemia.

Ando te escrevendo.
Poesias, contos, prosa.
Cartas de amor e serenidade.
Arquitetura do equilíbrio.

Andava te procurando.
Ao que te achei em belas pontes firmes.
Asas frondosas e músculos de concreto.

Reto o passo.
Sinuosa a vida.
Mas achei descanso em teu braço.
Abrigo.



Caminho

A minha casa segue pela estrada.
Vaga, lenta...
Às vezes se apressa na direção errada.
Nem chega, nem nada.



15.2.12

Seca

E o verde que vi vai secar num instante.
Vira cinza, fica tosco.
Fosco. Varrido pelo vento.
Sementes que não brotam.
Ar que não respiro.
Tem mato, mas é seco.
Tem lua, mas é minguante.
Tem calor, mas é arremedo.
Imitação da arte.
Natureza morta.